sábado, 20 de fevereiro de 2016

Jeitinho brasileiro

Olá pessoal!

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Hoje vou falar de um dos meus livros preferidos, A cabeça do brasileiro, publicado em 2007 pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). O livro apresenta os resultados de uma pesquisa estatística feita com 2.363 pessoas das cinco regiões do Brasil, as quais foram entrevistadas para identificar quais seus valores fundamentais em relação à corrupção, jeitinho brasileiro, papel do Estado, família, sexualidade, preconceito racial e política de cotas, entre outros assuntos. 




Os questionários partiram dos conceitos introduzidos pela obra de Roberto daMatta, antropólogo brasileiro que interpretou as relações sociais no Brasil e imortalizou a expressão "Você sabe com que está falando?", que seria o símbolo da hierarquização presente na sociedade brasileira, em contraposição às relações de igualdade vigentes nos EUA. 

Como explica Alberto Carlos Almeida, nos EUA, a desigualdade é transitória e contratual, justificada, por exemplo, na relação entre patrão e empregado. Fora dessa esfera, todos são considerados iguais e devem igual respeito às leis e normas vigentes. Já no Brasil a sociedade é eminentemente hierarquizada, o que significa que a posição e a origem social definem aquilo que se pode ou não fazer, e se a pessoa está acima da lei ou deve cumpri-la. A consequência dessa mentalidade é o enfraquecimento do respeito às leis e às normas, uma vez que elas podem ser descumpridas por vários motivos, em razão da posição social do "infrator" (você sabe com quem está falando?) ou de uma situação excepcional que autoriza um tratamento diferenciado (jeitinho).

De acordo com a pesquisa, ao serem perguntados "se alguma vez na vida o entrevistado já havia dado um jeitinho para alguém", "se alguma vez na vida o entrevistado já havia pedido para alguém dar um jeitinho a seu favor" e "se alguma vez na vida o entrevistado já havia dado um jeitinho", cerca de dois terços dos entrevistados responderam já ter utilizado o "jeitinho" para resolver alguma situação.

O jeitinho seria aquela zona cinzenta entre o certo e o errado, em que o contexto e as circunstâncias autorizam "quebrar" regras para que determinadas pessoas sejam beneficiadas. Algumas situações identificadas  por parte dos entrevistados como jeitinho pela pesquisa foram "pedir a um amigo que trabalha no serviço público para ajudar a tirar um documento mais rápido que o normal", "alguém consegue um empréstimo do governo que demora muito a sair, porque tem um parente no governo" e "uma mãe que conhece um funcionário da escola passar na frente da fila quando vai matricular seu filho". 

Para o autor do livro, quanto maior a utilização desse meio-termo em uma determinada sociedade, maior a chance de existir grande tolerância com a corrupção, pois a concepção do que é certo e errado varia conforme a situação, ou seja, é circunstancial. 

Almeida também destaca que o "jeitinho" brasileiro pode ser visto positivamente, pois seria "uma estratégia de navegação social", necessária diante de um Estado altamente burocratizado e ineficiente que não confere acesso a direitos igualitários a todas as pessoas, possibilitando que essas pessoas conquistem direitos que não conseguiriam alcançar de outra forma. Também seria uma forma de romper com as relações sociais hierarquizadas, que determinam o que cada um pode conquistar.

A pesquisa sobre o "jetinho" comprova, empiricamente, que a base social brasileira está fundada na desigualdade. Para o autor, essa característica da nossa sociedade dificulta a consolidação da democracia no país, cujo fundamento é a igualdade. Em outras palavras, as crenças que permeiam o meio social também influenciam o meio político, o que significa que a evolução da mentalidade da população brasileira, através do acesso à educação, é essencial para a alteração do sistema político. 

Com certeza esse é um tema bastante provocativo, que não se esgota em um único post! Essa vinculação sugerida pelo livro entre as crenças e valores vigentes na sociedade brasileira e os reflexos no sistema político brasileiro me fez pensar, dentre outras coisas, que a máxima "cada povo tem o governo que merece" tem mais verdade do que gostaríamos...

E vocês, o que pensam sobre o "jeitinho"??   

5 comentários:

  1. Verdade Stef, essa frase "cada povo tem o governo que merece" está mais atual que nunca... é o que penso. Já trabalho quase 15 anos no serviço público, quase oito no atual, vejo com muita preocupação o rumo das coisas... está na moda apoiar a operação Lava Jato, mais as mesmas pessoas que se dizem indignadas com tudo que já foi apurado, mas nas decisões do dia a dia toleram o nepotismo o excesso de cargos em comissão sem profissionalismo, sem produtividade...

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    1. Lina Loewenstein, São José dos Pinhais

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    2. Oi Lina! Concordo com você, acredito que cada um tem que fazer a sua parte!

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  2. Pois é, enquanto continuarmos a achar jeitinho para tudo, dificilmente nos construiremos uma sociedade mais justa!

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